A minha trilha individual foi criada baseada na trilha de Marina. Quando ouvi pela primeira vez a trilha dela, percebi que dois elementos estavam bastante presentes: voz e silêncio. A voz fazia sons abstratos e logo associei a diferentes tipos e tentativas de comunicação, que “estariam cortados pelo silêncio”, nos dando a ideia de que a comunicação estaria sofrendo interrupções. Logo me veio a ideia de que estando em quarentena, a comunicação de fato está sofrendo interrupções. Decidi seguir nesse caminho, trazendo os sons que escutamos na cidade de Cachoeira, onde moro atualmente, conforme vivenciamos a cidade em períodos normais, e interrompendo-os com sons tecnológicos, cibernéticos e virtuais. A ideia foi fazer um paralelo com as nossas comunicações atuais, que estão ocorrendo dessa forma virtualizada devido à pandemia e consequentemente sofrendo algumas interrupções. Foi também uma tentativa nostálgica de trazer memórias de um passado não tão distante em que a gente andava sem preocupações de doenças virais pelas ruas e ouvia os sons no dia-a-dia da cidade.
O bocejo inicial é um elemento que aparece para fazer uma referência à trilha de Marina, que faz sons com a boca, mas que também serve como um elemento que sintetiza uma sensação frequente desse momento de quarentena, que é o cansaço, não um cansaço físico, mas sim mental e emocional.
Os sons que eu utilizei foram adquiridos através do Mapa Sonoro de Cachoeira (
www.mapasonorodecachoeira.sonatorio.org), que é uma plataforma digital onde nós, do curso de Cinema & Audiovisual da UFRB, realizamos a captação de áudio de diferentes partes da cidade de Cachoeira. No contexto da criação da minha trilha utilizei sons que eu havia gravado um tempo atrás para esse mapa.
A cada interrupção da ambiência, ouvimos um humming de cabos e/ou chiado de televisão antiga. São diferentes tipos de comunicações, que não conseguem se concretizar. São também memórias dessas duas dimensões: o passado real e um presente absurdo e virtual, onde nada é compreendido. A trilha é finalizada sem uma resolução desse “conflito”, como se ela na verdade fosse um trecho de algo maior, que apenas sobrevoa esse momento da nossa vida, misturando realidade e ficção. Essa edição foi feita no software livre Audacity.
(por Lígia Franco)