i am sorry mr scelsi [versão drops]
por Jalala Amani
Fabricar monstrosidades com a respiração. i am sorry mr scelsi é um exercício vocal sobre ciclos compostos de produção, liberação e vocalização de sensações. O uso paródico do nome do compositor microtonal precursor da música espectral europeia se motiva na chave da aparente economia compacta de proposição. Além disso, o nome traz referência a um certo caráter meditativo, que rapidamente, em ato, anuncia linhas irredutíveis de dramaticidade e outros compromissos aquém e além da meditação. I AM SORRY é performance acerca de sensação, mas não no sentido conceitual, e sim no sentido operador-específico. A chave deste pequeno improviso, improvivo (em especial desta versão drops, pelo caráter sintético proposto pela curadoria) é a ambiguidade da noção de ar, concentrando-se, portanto, no contexto da respiração. Tento então habitar uma dramaturgia que leve em conta esse enigma – se o tomarmos como tal – deonde emergem outros enigmas. A voz passeia por zonas dramatúrgicas, portanto, que são os modos indagativos de uma vocalização em aberto.
Os dispositivos e estados germinais da ação em questão acenam desde performances como song of bones (2014), transfiguração pitagórica (2014), e uma das partes da performance invocação para cordaria (2015), que se deu em parceria com Felipe Merker Castellani. Desde então já acenava a necessidade de se configurar uma ação elaborada somente com as derivações do corpo enquanto ‘calor, textura, espessura, caminhos-escapes etc do o ar que se respira [o quê é isso, ar, respirar?]’ (anotação constante em diário de trabalho). Derivações, melhor dito, secreções que sinalizassem as imagens afetivas-instintivas e estados avassaladores de conversão que atravessam o corpo do atravessamento. Também germinava desde 2015 a possibilidade concreta de se construir uma espécie de ‘microfonia da própria voz’ – grosso modo. Nesta última perspectiva que se insinua, tento flagrar os parentescos e as associações espontâneas e indeléveis da vocalização em aberto com deformações e filtragens que reconhecemos do ambiente elétrico. Germinação de membranas do corpo, membranas do ruído, membranas da técnica no seu aspecto mais periclitante, membranas da voz da pessoa enquanto compósito e flagrante... Se algo vibra, há já membrana.
Esta versão drops é apanhado sintético de uma pequena série de compósitos de sensação, principalmente nas chaves de timbre, textura, ciclos da sensação e seu improvável processo de construção de gestos e associações espectrais – digo isso na falta de palavras melhores. É um processo que se dá no corpo. Uma referência incontornável na construção desta variação drops, e da ação como um todo, é o disco lost rivers (1992) da artista tuvan Sainkho Namtchylak, álbum bem pouco contemplado na discografia da performance vocal e na própria discografia da performer.
Equipamento utilizado: Gravador TASCAM DR100; microfone dinâmico Sennheiser E835.
Ficha Técnica
Voz: Francisco L. Ribeiro (Jalala Amani);
Gravação e suporte técnico: Marina Mapurunga
Francisco Lauridsen Ribeiro – Chico (Jalala Amani) - resido por ora no município de Cotia, região metropolitana de São Paulo; pesquiso/trabalho em São Paulo – SP – Brasil -
Francisco Lauridsen (Jalala Amani) é artista e terapeuta multidisciplinar. Coordena os núcleos de corpossom e desde 2019 integra a Orquestra Errante e a rede Sonora – músicas e feminismos. É bacharel em música com Habilitação em Instrumento pela ECA/USP (2006). Desde 2004 atua como sonoplasta. Atua como pesquisadore nas aprendizagens entre dramaturgias e estratégias de desenho, som e corpo como aliança singular e interespécie. Mestrou-se (2009-11) em Artes Cênicas (pedagogia do teatro), orientado por Antônio Januzelli, com o mote ‘preparação do corpossom: atuação e voz concreta’. Propôs e participou do espetáculo ‘laboratório corpossom na foz das cavernas’ (2013). Recebeu prêmio de ‘concepção sonora’ para a sonoplastia do espetáculo ‘aos que vieram antes de nós’ (direção de Maria Thais) no Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (2016). Doutorou-se na ECA/USP com a pesquisa ‘esboçamentos de corpossom: a escrita do corpo na víscera do som’ (2015-2019), orientado por Silvio Ferraz.
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