NUANCES. POPI. A QUARENTENA.
(conto por Joanne Labixa,
baseado na mixagem Planeta de Sons, de Lígia Franco)
Chove.
O sinal está fraco mas ainda ouço muita coisa.
Talvez os aliens tenham finalmente se compadecido da nossa situação e tenham vindo nos salvar, mas não tenho coragem de ir lá fora conferir, já faz muito tempo desde a ultima vez. Me mandaram um áudio falando
que todos que iam lá fora estavam virando zumbis ou algo do tipo, e pelos barulhos que ando ouvindo parece verdade, não sou eu que vou lá fora conferir.
Começou a chover mais forte, acho que o esgoto já transbordou...ou a cidade toda inundou e isso são bolhas de ar dos sobreviventes...é bom pensar que continuo segura aqui dentro! Popi (meu camelo de estimação)
tem estado estranhamente quieto ultimamente, suspeito que ele tenha virado um holograma, mas me sinto confortável o suficiente para não querer confirmar. Nesse meio tempo de confinamento eu pude fazer algumas coisas, aprender a tocar kalimba, percussão e manter contato externo através de osciladores vocais. Surpreendentemente, muita gente capta o sinal.
Meu colega de apartamento já não sai do quarto a 4 dias e agora, do nada, um barulho começa a sair de lá. Não que a privacidade dele deva ser interrompida, mas estou começando a ficar preocupada.
Popi sumiu! Os barulhos do quarto dele começaram a aumentar drasticamente e agora eu os escuto até mesmo da área de serviço, o lugar mais afastado da casa! Talvez ele esteja fazendo contato com a vida lá de fora, mas por tanto tempo? É impossível.
Decidi que iria arrombar a porta do quarto dele na madrugada, enquanto ele supostamente estivesse “dormindo”. Quando o fiz, me deparei com uma cena que nunca esquecerei na minha vida toda: ele estava lá, sentado, imóvel, vestido com uma capa de chuva, uma máscara feita de agua e uma nuvem pairava sobre ele, a televisão se projetava pra fora enquanto Popi estava do seu lado, trotando no mesmo lugar enquanto
rodava sua cabeça (isso mesmo, como no exorcista, 360°). Estava estática, não conseguia esboçar reação, quando finalmente dei por mim e acendi as luzes, Popi parou de trotar e meu colega de Ap levantou-se e
correu em minha direção com um molho de chaves, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa eu tava em frente à uma porta...de onde vinha um som muito seco, similar ao de uma caixinha de musica quebrada...
A chuva tinha finalmente parado.
Abri a porta.
Um breu.
Hora de acordar
?
credits
from Pandemix Vol.2,
track released August 13, 2020
Mixagem por Lígia Franco.
Arte da capa da mixagem por Lígia Franco.
Trilhas do Pandemix Vol.1 por Daniele Costa, Felipe Borges, Gabriel Ferraz, Carla Caroline, Girlan Tavares, Joanne Labixa, tepha, Marina Mapurunga e Lígia Franco.
Laboratório de Pesquisa, Prática e Experimentação Sonora. Projeto de Extensão do Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
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